27/05/2015
Quando crianças, os jovens que estão se formando hoje nos cursos de Engenharia Aeronáutica jamais poderiam imaginar que o material plástico com o qual eram produzidos os aviõezinhos de brinquedo nos anos 90, estaria incorporado, em apenas duas décadas, à estrutura do Airbus A380, moderníssima e maior aeronave de passageiros do mundo. O fulminante salto tecnológico significa, dentre outros avanços, custo menor de produção, com a utilização de matérias-primas e compostos mais baratos, embora muito resistentes, e menos consumo de combustível, pois os equipamentos são mais leves e aerodinâmicos, com ganho para o meio ambiente e economia de energia.
Estamos falando, portanto, de inovação e sustentabilidade, conceitos presentes na indústria de transformação do plástico, que, a exemplo da aviação e alguns outros setores, destaca-se globalmente em Pesquisa & Desenvolvimento. Isso pôde ser constatado pelas mais de 70 mil pessoas, representantes de todos os elos da cadeia produtiva, que visitaram a Feiplastic 2015 (Feira Internacional do Plástico), de 4 a 8 de maio, no Anhembi, em São Paulo.
No evento, estavam expostas desde impressoras em três dimensões, que “imprimem” produtos prontos a partir de imagens, até máquinas de reciclagem, passando por espumas muito eficazes em isolamento acústico e máquinas para a fabricação de tecidos de polipropileno. Todos os equipamentos e novidades têm duas características em comum: resultam da aplicação de tecnologia de ponta e expressam a preocupação com o meio ambiente, o conforto humano, economia de energia e menores custos de produção, conceitos que devem nortear, cada vez mais, a trajetória da indústria de transformação do plástico.
Seguir esse caminho é uma alternativa obrigatória para o setor em nosso país, não só na perspectiva do futuro, como para reverter a retração provocada pela crise econômica nacional. Os números do Perfil 2014 da Indústria Brasileira de Transformação do Material Plástico, que acaba de ser divulgado, mostram ser necessário empreender uma reação: o faturamento, de R$ 59,2 bilhões, foi 6,3% menor do que os R$ 63,2 bilhões registrados em 2013. Queda deveu-se ao recuo na produção, de 6,95 milhões de toneladas para 6,71 milhões (-3,5%), à concorrência dos importados e à dificuldade de recompor preços por conta do mercado desaquecido.
O consumo de transformados plásticos também caiu em 2014 (-2,6), mas numa proporção menor do que a produção, evidenciando que parte significativa do mercado interno vem sendo suprida pelas importações. No ano passado, os brasileiros consumiram 7,24 milhões de toneladas de plásticos transformados, contra 7,44 milhões em 2013. Em valores, foram R$ 65,87 bilhões, ante R$ 69,57 bilhões (-5,3%). As importações cresceram 5% em quantidade, ganhando mais espaço frente à produção nacional. Em relação a 2013, sua participação no consumo brasileiro aumentou 7,9%, em toneladas, e 9,3% em valor.
Embora conte com 700 fábricas de maior porte, integrantes de cadeias produtivas que produzem em escala mundial, como automotiva, alimentos e bebidas, toda a indústria brasileira de transformação do plástico – constituída por 11.590 empresas, empregadoras de 352 mil pessoas – precisa direcionar seu foco para a tecnologia e a sustentabilidade. Aí estão as melhores oportunidades para seu crescimento, conquista de novos mercados e superação das dificuldades impostas pela crise brasileira.
*José Ricardo Roriz Coelho é presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e do Sindicato da Indústria de Material Plástico do Estado de São Paulo (Sindiplast-SP). É vice-presidente da Fiesp e diretor de seu Departamento de Competitividade e Tecnologia.