05/06/2014
As medidas adotadas pelo governo para reduzir o custo de produção no ano passado – desoneração da folha de salários e queda no preço da energia elétrica, principalmente – tiveram efeito irrisório. De acordo com a atualização de um estudo feito pelo Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o custo “fora das fábricas” no Brasil tornava os produtos manufaturados feitos no Brasil 23,4% mais caros que os bens importados – um ganho de dois pontos sobre 2012. Somando-se a esse “custo Brasil” o efeito do câmbio, contudo, o diferencial de preços a favor dos bens vindos de fora subiu para 33,7% – apenas meio ponto percentual abaixo do adicional de 34,2% registrado pela Fiesp no estudo original, feito para o ano de 2012.
“Continua muito caro produzir no Brasil”, resume o diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec), da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho. Ele pondera que a valorização ocorrida no Brasil em 2012 não pesou a favor do custo de produção no país, porque outros países com os quais o Brasil mantém relações comerciais também valorizaram sua moeda, neutralizando quase todo efeito da desvalorização de cerca de 11% na cotação do real frente ao dólar americano no ano passado. Com relação à China, e antes do câmbio, o diferencial de custo caiu mais: 6,2 pontos percentuais. Entre os desenvolvidos, o ganho foi menor e também ficou em 2 pontos.
Para o estudo, a Fiesp utilizou o índice Big Mac de julho de 2013 para ajustar o preço dos produtos importados em relação ao produto nacional. Por esse indicador, o real ainda encontrava-se valorizado em 16% em relação ao dólar naquele momento. Por isso, também, apesar da “correção” de 2013, o câmbio ainda encarecia o produto doméstico em relação ao bem trazido do exterior.
De acordo com o estudo da Fiesp, a tributação e a burocracia elevam o custo Brasil em 13,8%, enquanto os juros encarecem o preço de saída da fábrica em 4,1% e a energia elétrica e as matérias-primas em 3%. Na comparação com 2012, a queda mais expressiva foi no item tributação e burocracia, cujo custo extra representava um adicional de 15,5%.
“A desoneração trouxe ajuda pontual a alguns setores, mas foi insuficiente para fazer diferença”, pondera Roriz. O ambiente adverso de competitividade com o exterior, na avaliação do Departamento de Competitividade da Fiesp, anulou praticamente todo ganho das medidas de política industrial adotadas nos últimos anos.
De acordo com estimativas feitas pela entidade, as três principais medidas do Plano Brasil Maior representaram uma economia direta (sem levar em conta impactos positivos na produção, renda, investimento, e, consequentemente, arrecadação) de R$ 8,6 bilhões para a indústria de transformação em 2012, valor equivalente a apenas 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Apenas o gasto da indústria com tributos somou, no mesmo ano, R$ 224,2 bilhões.
Na avaliação da federação, o diferencial de preços a favor do produto importado explica, ao mesmo tempo, o crescente aumento da participação das importações no consumo doméstico e a perda de dinamismo da exportação de manufaturados, situações que, juntas, têm feito a indústria perder espaço no PIB. Em dez anos, a participação das importações no consumo passou de 10% para 23,7%, período em que o peso do setor no PIB recuou de 18% para 13%.
De acordo com dados do Departamento de Competitividade da Fiesp, abriu-se uma “boca de jacaré” entre consumo e produção no Brasil. De 2003 até março deste ano, a produção física da indústria de transformação cresceu apenas 25%, enquanto o volume de vendas do comércio varejista ampliado (incluindo automóveis e materiais de construção) cresceu 116%.
Outra comparação que mostra a perda de competitividade da indústria brasileira, na avaliação da Fiesp, é que enquanto no Brasil o setor de transformação ainda não recuperou o nível pré-crise mundial (meados de 2008), a indústria mundial já produz, atualmente, 11,5% acima daquele nível. “Estamos perdendo não só a concorrência aqui dentro, mas também no mercado lá fora”, diz Roriz, acrescentando que no mercado interno, apesar da crise conjuntural desse início de 2014, não há um problema nem de renda da população, nem de oferta de crédito para os consumidores.
A consequência do diferencial de preços a favor dos bens importados é uma indústria cada vez menos propensa a investir, afirma o diretor da Fiesp. “O empresário moderno não age mais pelo ‘instinto animal’, mas com base em dados e números que lhe mostram se o investimento feito hoje vai lhe dar retorno amanhã. E hoje, os números mostram que não compensa fazer uma aposta no incremento da produção”, resume Roriz.