28/05/2012
A Liquigás, maior distribuidora de gás de cozinha do país (GLP), controlada pela Petrobras, começou a fazer os primeiros testes com botijão de plástico no mercado nacional. A companhia quer substituir, ao longo dos próximos anos, os botijões convencionais – um total de 110 milhões de unidades em todo país – pela nova tecnologia, considerada mais segura e de 20% a 30% mais leve que o similar de aço.
Em parceria com a petroquímica Braskem e a fabricante americana Amtrol-Alfa, a Liquigás começou a importar as primeiras amostras até que a produção dos botijões de plástico seja possível no Brasil. Nesta primeira fase, a Braskem enviou o polietileno (PE) de alta densidade – a matéria-prima para este tipo de plástico – para Portugal, onde a Amtrol-Alfa produz o botijão para toda a Europa. “Mas a produção terá de ser feita aqui, ou não se viabiliza economicamente”, afirmou ao Valor o presidente da Liquigás, Antonio Rubens Silva Silvino.
Diretamente envolvido no projeto – “a inovação foi uma demanda dos nossos acionistas” -, o presidente da Liquigás disse que há interesse de todos os parceiros em fazer o negócio acontecer. A Braskem será a fornecedora da matéria-prima. E a Amtrol-Alfa, terceira maior produtora de botijões no mundo, pretende instalar sua primeira fábrica no Brasil para produzir as novas embalagens de gás – possivelmente no Nordeste. “Estamos em fase de coleta de informações sobre os tipos de incentivos para investir na fábrica”, admitiu William Chohfi, presidente da Amtrol-Alfa de Portugal, em entrevista por telefone ao Valor. O investimento em uma nova fábrica seria em torno de US$ 8 milhões. “A decisão será tomada em dois meses.”
Enquanto o martelo não é batido, a Liquigás colocou exemplares do botijão de plástico à disposição de alguns consumidores. A empresa escolheu seis mil residências em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre para o projeto-piloto. É uma fase crucial – são esses consumidores que apontarão o grau de aceitação à nova tecnologia, distribuída nos modelos mais leves de cinco quilos e nove quilos. Os testes também comprovarão a resistência do botijão de plástico à realidade brasileira, com percurso maior e ruas muito mais acidentadas que na Europa. A expectativa é que a fase de testes, iniciada no fim de fevereiro, termine nos próximos meses.
As vantagens econômicas e ambientais dessa tecnologia são significativas, diz Silva. Além de durar mais – o botijão de aço está sujeito à corrosão e é mais suscetível à reprovação na requalificação -, o modelo de plástico também não precisa ser pintado a cada 45 dias, quando é recolhido das residências. “Gastamos 2,4 milhões de litros de tinta por ano para pintar os botijões”, disse Silvino. Apesar da embalagem ser de plástico, o gás continua a ser envolvido em cilindros de aço, o que garante a segurança do produto.
Do ponto de vista ambiental, emitirá muito menos dióxido de carbono (CO2), o principal gás-estufa. Isso porque, por ser mais leve, os caminhões distribuidores economizarão diesel. A Liquigás, porém, ainda não tem números sobre a queda dessas emissões.
Segundo Silvino, a Liquigás é líder nesse mercado – que comercializa 38 milhões de botijões por mês. A participação da companhia é de 24,2%, ou de 8 a 9 milhões de botijões mensais.
A mudança na embalagem vai trazer ganhos no transporte, lembrou Zolder Stekhardt, gerente de vendas da petroquímica Braskem, responsável pelo atendimento à Liquigás. A Braskem, que fornecerá a matéria-prima para viabilizar a produção da resina, disse que a companhia quis fazer parte deste projeto desde o início.
Segundo Chohfi, o projeto começou a ser implantado na Europa há alguns anos e hoje há cerca de 3 milhões de botijões de plástico espalhados pelos países do continente. “Essa nova tecnologia começou a ser testada na Escandinávia”, afirmou.
Na Europa, a nova tecnologia atende às normas rígidas trabalhistas. Chohfi informou que os distribuidores de gás não podem carregar produtos acima de 25 quilos. Ele acredita que muitos dos acidentes trabalhistas ocorrem na estação de enchimento desses botijões. “O consumidor brasileiros tem um produto pesado”, disse.
Se confirmado o investimento da Amtrol-Alfa no Brasil, será a quinta unidade produtora da companhia no mundo. A empresa tem duas fábricas nos Estados Unidos, uma na Polônia e outra em Portugal. Com o fato de a produção ser no Brasil, a Amtrol-Alfa também poderá se beneficiar da disponibilidade de resinas “verdes” (a partir do etanol, produzida pela Braskem). Por enquanto, a empresa só prevê o fornecimento de resinas tradicionais.
O custo de um botijão tradicional gira em torno de R$ 85 a unidade. A Liquigás não divulga o valor do custo para o novo botijão, mas Silvino afirmou que o preço não deverá ser muito diferente do modelo convencional. Segundo o executivo, os investimentos iniciais desse projeto demandaram cerca de R$ 1 milhão.
A entrada de um novo produto, inovador, não deve ameaçar em um primeiro momento os grandes produtos de botijão de aço, negociados no Brasil há 75 anos. A Mangels, uma das maiores produtoras do produto convencional, disse que “encara positivamente qualquer movimento de modernização para o mercado”. A empresa informou que lançou há alguns anos a produção do botijão de 8 quilos e recentemente participou da montagem da nova norma no Uruguai, que reduziu o peso das embalagens naquele país, mas mantendo a capacidade para os mesmos 13 quilos de GLP. A empresa, no entanto, não negocia firmar parceria para produzir botijão de plástico no Brasil.