PRESENÇA FEMININA NA INDÚSTRIA AUMENTA NA ÚLTIMA DÉCADA

    08/03/2024

    Estudo mostra que a igualdade de gênero e a equiparação salarial avançaram, mas as empresas ainda precisam investir na contratação de mulheres

    Nos últimos anos, houve um avanço na representatividade feminina na indústria. Os dados do estudo ‘Mulheres no Mercado de Trabalho’ da Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostram que a presença das mulheres em cargos de gestão aumentou de 35,7% para 39,1%, entre 2013 a 2023, indicando um progresso modesto em direção à igualdade de gênero. A pesquisa ressalta que, de maneira geral, houve um crescimento de cargos de liderança feminina na indústria três vezes maior, atingindo 32,5%, enquanto as demais entidades que não são indústria, alcançaram apenas 9,8%, considerando os últimos treze anos.

    Somente na indústria de transformados plásticos existem 103 mil mulheres empregadas, registrando um crescimento de 31% nos últimos quinze anos, segundo dados do RAIS do Ministério do Trabalho, que contou com a análise da ABIPLAST.

    Para Simone Carvalho, assessora técnica na Associação Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST), que já atuou como professora de cursos ligados à área do plástico e gestora ambiental há mais de 40 anos, as mulheres vão ganhar cada dia mais espaço na indústria e isso está evidenciado por meio do aumento da procura por capacitação na área. “Embora haja ainda poucas mulheres em cargos de liderança na produção de plásticos, notamos uma presença significativa em áreas como Recursos Humanos, Sustentabilidade e Qualidade. Com o aumento da procura por cursos na área, acredito que esse cenário deva se transformar nos próximos anos”, comenta Simone.

    No entanto, a assessora técnica destaca a necessidade de colaboração por parte da indústria para promover a equidade de gênero, demonstrando que há oportunidades para as mulheres neste mercado. “O setor do plástico abrange diferentes áreas, incluindo produção, qualidade e ESG, oferecendo diversas oportunidades de atuação, mas as empresas precisam mostrar às mulheres as possibilidades de crescimento profissional, bem como aderir a programas de incentivo à capacitação a fim de abrir caminho para mais mulheres ocuparem cargos de destaque”, afirma Simone.

    Presença feminina em cursos da área

    De acordo com levantamento do centro educacional do SENAI, unidade Mário Amato, localizada em São Bernardo do Campo, polo industrial da região metropolitana de São Paulo, a procura por cursos técnicos em plásticos e química aumentou 247%, entre 2012 e 2022. No curso técnico em plásticos, a média anual de alunas é de 80, enquanto no curso de química, o público é majoritariamente feminino, com cerca de 460 matrículas femininas em comparação com 318 matrículas masculinas em 2022.

    “Observar o crescimento da presença feminina em nossos cursos ao longo dos anos tem sido algo admirável. Este aumento reflete não apenas a importância crescente das mulheres na indústria, mas também o reconhecimento de seu talento e capacidade. O objetivo do SENAI é continuar promovendo a igualdade de oportunidades e capacitando mais mulheres para assumirem cargos de destaque em diversos setores da indústria, visando construir um futuro mais igualitário”, comenta Carlos Alberto Pereira Coelho, diretor do SENAI Mario Amato e Institutos SENAI.

    Fabiana Zanelato Kuwajima, Engenheira de Desenvolvimento de Processo Sênior na BASF, que concluiu o curso técnico em plástico no SENAI destaca a importância dessa formação em sua trajetória profissional: “O curso técnico em plástico do SENAI foi o alicerce da minha jornada. Atualmente, aplico os conhecimentos adquiridos nos ensaios industriais para validar novos produtos e aprimorar processos”.

    A analista de qualidade na Aston, Aline Roberta Fernandes, também formada no SENAI, enfatiza que não adquiriu apenas conhecimento, mas também experiência para sua carreira. “É um ambiente desafiador, enfrentei muitas situações de machismo, mas superei com minha força e dedicação”.

    Avanço na paridade salarial

    A desigualdade salarial na indústria, segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), é de 15%, menor do que a estimativa geral do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para as brasileiras em geral, de 22%.

    A pesquisa da CNI, ‘Mulheres na Indústria’ mostra que a cada dez indústrias brasileiras, seis contam com programas ou políticas de promoção de igualdade de gênero, sendo que 61% mantém há mais de 5 anos. Segundo o documento, 33% das instituições adotaram essas medidas após identificarem a desigualdade de gênero em seus quadros, enquanto 28% compreenderam a importância de oferecer oportunidades iguais para todos.

    “Por isso, as profissionais devem buscar capacitação, mostrar perseverança e resiliência, pois o ambiente ainda é desafiador para as mulheres, embora infinitamente melhor do que há 40 anos, quando iniciei minha jornada profissional no setor do plástico”, conclui Simone.

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