Gestão em tempos de crise

    29/09/2015

    “Sobrevivendo à crise: estratégias para as empresas”. Este foi o mote da palestra de Sérgio Lazzarini, do Insper, durante o Seminário Competitividade, promovido em 24/9 pela Abiplast e pela Plásticos em Revista.

    De acordo com Lazzarini, um dos mais drásticos problemas brasileiros é nossa improdutividade crônica. “O acesso à educação não se refletiu no aumento da nossa produtividade, diferentemente do que ocorreu, por exemplo, na Coreia do Sul”, ele afirma. E, pior do que nossa improdutividade, é aquilo que Lazzarini chama de capitalismo de laços – basicamente, um sistema em que o empresariado e os políticos se retroalimentam, por meio da troca de favores, de benesses, de doações recompensadas por meio de contratos públicos, empréstimos subsidiados e outras facilidades.

    “Como ajustar uma economia dependente de recursos públicos e sujeita a interesses difusos? “, questiona o professor, adicionando: “E onde, com as investigações em curso, esse capitalismo de laços ficou mais arriscado?”.

    Na visão do economista, para que as nossas finanças sejam saneadas e a crise possa começar a ser debelada, a agenda do Governo deve se basear em seis pontos principais: 1. Gastos Públicos; 2. Previdência; 3. Responsabilidade fiscal; 4. Transparência e Governança; 5. Competitividade; 6. Impostos.

    Caminhos para as empresas

    Lazzarini expos alguns estudos feitos com base em casos reais de superação de crises importantes. O primeiro deles, inspirado na crise argentina, intitula-se “O que não nos mata, nos torna mais fortes”, e mostra que empresas mais competitivas têm melhores condições de enfrentar as adversidades, enquanto aquelas menos estruturadas correm mais riscos de sofrer com o choque.

    Esse estudo mostrou que as crises acentuam as vantagens de algumas companhias, que passam a gerar mais oportunidades de investimentos. As mais favorecidas pelos cenários conturbados são aquelas que dispõem de boa flexibilidade financeira.

    O estudo 2, “Nunca desperdice uma boa crise”, teve como objetos de estudo companhias inicialmente analisadas em 2006 e novameente observadas após 2010. Foram 1.300 empresas envolvidas neste estudo, estabelecidas em 10 países desenvolvidos. O que se observou foi que a gestão descentralizada favoreceu a superação dos entraves. E mais: a descentralização funcionou, sobretudo, naquelas companhias mais endividadas – portanto, com menor flexibilidade financeiras.

    “Infelizmente, o Brasil sempre aparece na lanterna dos rankings de práticas gerenciais”, lastimou Lazzarini.

    O terceiro estudo, “Não fique atolado no meio”, mostrou que o pior caminho a ser adotado por uma empresa é a permanência em um patamar mediano. “A fórmula do baixo custo com alta produtividade é o que produz melhores resultados”, resume Lazzarini. “Alto preço, só se houver alta qualidade percebida”, acrescenta.

    “A crise de hoje não é típica”

    Um dos mais importantes nomes da Economia no Brasil, Yoshiaki Nakano explicou porque a crise do Brasil hoje é diferente das crises cíclicas, em que o período de crescimento é sucedido por um ciclo de ajuste.

    “Normalmente, temos uma fase em que sobem preços e salários, depois vem um período de ajustes promovidos pelo Banco Central para conter a inflação. Chega-se a um certo equilíbrio e então temos redução de juros e retomada do crédito”, resume.

    Segundo Nakano, o que nos trouxe à crise atual foi a incapacidade do Governo em implantar as reformas necessárias quando estávamos em uma fase próspera, profícua. Com isso, além de uma retração do PIB que pode ser de 3 pontos percentuais em 2015, caminhamos para mais um ano de recessão em 2016 e total falta de esperança de retomar o crescimento em 2017. “Na pior hipótese, podemos até enfrentar um quadro de hiperinflação combinado à crise fiscal”, ele avisa.

    “Este Governo dificilmente será capaz de promover a retomada do crescimento”, sentencia Nakano. “Todas as crises – nos anos 90, em 2002 e em 2008 – foram deflagradas pelo mercado financeiro. E vemos que a participação da indústria no PIB vem caindo aceleradamente: era de 35% nos anos 80, de 29% na década de 90 e, hoje, é de apenas 9,1%”, constata o ex-consultor do Banco Mundial.

    Nakano expõe as inúmeras razões pelas quais o encolhimento da indústria de transformação é nocivo ao País: “Trata-se de um setor que inova, aumenta a produtividade, está inserido na economia global, tem ganho de escala. Mas ele foi destruído pela política cambial.”.

    Também somos prejudicados por um custo de capital muito elevado – bem maior do que a expectativa de retorno – e pela situação fiscal péssima. “A prática de juros altos é tiro no pé”, informa Nakano.

    Perspectivas: é preciso estar atento!

    O economista considera que, sem um forte ajuste fiscal, não haverá recuperação econômica. É preciso empreender reformas profundas, com mudanças também no regime cambial.

    “A definição do regime e da política cambial não pode ficar a cargo do Banco Central. Defendo a ideia de que haja um Comitê Executivo, composto de ministros, que fiquem responsáveis pelo câmbio. A estabilidade e sustentabilidade da taxa de câmbio no longo prazo é tão ou mais importante do que o seu nível”, ressalta Nakano. Afinal, essa estabilidade é que motivará ou não os investidores a fazerem suas opções.

    Para o professor da Fundação Getúlio Vargas, o regime deveria ser de flutuação administrativa, de modo a garantir competitividade e equilíbrio externo. Ele relembra que os ajustes fiscais bem sucedidos são precedidos pela desvalorização cambial, pelo corte significativo nas despesas correntes e pela política monetária passiva. “Há uma hesitação do Governo em fazer o ajuste fiscal necessário. Mas uma coisa é certa: aumento de impostos sempre dá errado”, ele garante.

    Nakano esclarece que, sem ajuste fiscal e interrupção do crescimento da dívida pública, a confiança não será recomposta. “O Banco Central perdeu o controle da taxa de câmbio, da inflação e da taxa de juros, no meio de uma recessão. Se o BC e o Tesouro não tomarem medidas mais drásticas, não será possível retomar o controle da taxa de câmbio e as consequências poderão ser dramáticas, em uma espiral negativa”, alerta.

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