10/07/2014
José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Abiplast
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O avanço dos importados no mercado doméstico, que contribuiu fortemente para o déficit comercial de US$ 2,45 bilhões da indústria brasileira de transformação de plástico no ano passado, poderá aprofundar as marcas negativas na balança em 2014. No primeiro trimestre, o saldo negativo cresceu 13,4% na comparação com igual intervalo do ano passado, para US$ 678 milhões. Esse valor já supera o déficit total de US$ 646 milhões registrado há sete anos pela indústria – desde 2007, o saldo negativo quase quadruplicou, diante da perda de competitividade do produto nacional.
A piora da balança comercial reflete não somente o aumento das importações mas também o crescimento do valor das compras externas e o enfraquecimento das exportações em volume. A crise na Argentina, principal destino externo dos manufaturados plásticos brasileiros, tem agravado essa situação, ao mesmo tempo em que a desaceleração das economias desenvolvidas levou os chineses a voltarem a atenção para mercados como o brasileiro.
De janeiro a março, as importações brasileiras de transformados plásticos somaram US$ 977 milhões, com alta de 8,4% na comparação anual. As exportações, por sua vez, totalizaram US$ 299 milhões, com queda de 1,6%, segundo dados do Econoplast, boletim econômico da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). Em volume, o saldo comercial no período é deficitário em 136 mil toneladas, 12% acima do registrado no primeiro trimestre do ano passado, com importações de 189 mil toneladas e exportações de 52 mil toneladas.
De acordo com o presidente da Abiplast, José Ricardo Roriz Coelho, a expectativa é a de que as importações cresçam entre 7% e 10% neste ano. Esse desempenho, porém, pode não se concretizar caso a economia brasileira permaneça em desaceleração, o que teria impacto não apenas na demanda por importados, mas também nas vendas internas da indústria. Diante disso, “o déficit comercial deve no mínimo repetir o ano passado”, na avaliação de Roriz. “O mercado está ruim e o segundo semestre é um ponto de interrogação muito forte”, disse ao Valor o presidente da Abiplast.
Segundo ele, o saldo comercial da indústria é historicamente negativo diante do volume elevado de importação, mas o alto custo de produção no Brasil tem contribuído para a redução dos investimentos e para o aumento das compras externas de produtos de maior conteúdo tecnológico. Há dez anos, contou, a China era tradicional exportadora de commodities de plástico. Porém, o perfil dos embarques tem se sofisticado. “O maior exportador para o Brasil é a China, e eles estão bastante mais agressivos, porque não conseguem colocar seus produtos nos mercados europeu e americano”, acrescentou.
No ano passado, os chineses responderam por 23% das importações brasileiras de plásticos – constituídas principalmente de garrafões, garrafas e frascos -, seguidos pelos Estados Unidos (16%), pela Alemanha (7%) e Argentina (6%). Ao todo, as compras externas somaram US$ 3,84 bilhões, ou 732 mil toneladas, com alta de 7%.
Já as exportações da indústria ficaram em 246 mil toneladas, ou US$ 1,39 bilhão, comparável a faturamento de US$ 1,34 bilhão em 2012. Conforme o Econoplast, os principais destinos das exportações brasileiras em valor são Argentina (24%), Países Baixos (12%) e Chile, Paraguai e Estados Unidos, com 7% cada. O país exporta tubos, chapas, folhas, películas, tiras e lâminas de plástico, entre outros. Em 2013, o coeficiente de importação (participação do importado na demanda interna) foi de 12% e o de exportação, 4,6%.