08/01/2014
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Na semana anterior ao Natal, quando a Braskem, maior petroquímica das Américas, anunciou a assinatura de um acordo para compra da Solvay Indupa, produtora de PVC do grupo belga Solvay na América do Sul, a Abiplast, entidade que representa a indústria brasileira de transformados plásticos, acendeu a luz amarela. O receio é o de que sejam mantidas algumas medidas que oneram as importações de PVC, ao mesmo tempo em que a Braskem se consolida como a única produtora da resina no Brasil e na Argentina.
Em nota, a Abiplast lembrou que, desde 2010, a petroquímica brasileira já é responsável por 100% da produção nacional de polietileno (PE) e polipropileno (PP). Com a compra da Indupa, que ainda depende de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência (Cade), a Braskem se consolidará como única fornecedora local das três principais resinas usadas pelos transformadores.
Para a entidade, a consolidação da petroquímica é importante porque a torna mais competitiva. Mas preocupa a necessidade de condições competitivas de acesso às matérias-primas, “que, devido às novas características estruturais, não pode prescindir do mercado internacional como opção concorrencial e fator balizador de preços, considerando que internamente não há concorrentes.”
A mesma preocupação, conforme a Abiplast, foi indicada pelo Cade à época da compra da Quattor pela Braskem. “O objetivo da Abiplast é alertar sobre a questão e defender a livre concorrência no mercado de resinas termoplásticas, preconizando uma situação que não seja prejudicial aos elos posteriores da cadeia produtiva, assim como ao consumidor final de artigos plásticos”, disse a entidade.
Em outras palavras, o que pede a entidade é a retirada de medidas que dificultam ou encarecem o acesso às resinas importadas, uma vez que haverá um único fornecedor na região. Hoje, segundo o presidente da Abiplast, José Ricardo Roriz Coelho, além do imposto de importação de 14%, há a taxa antidumping para o produto proveniente de vários países, entre os quais Estados Unidos e China.
A argumentação da entidade é a de que se a concentração da petroquímica é saudável porque o mercado de resinas é global – e a Braskem, no caso do PVC, representará apenas 2% no mercado mundial – e os preços são formados internacionalmente, não haveria razões para impedir os transformadores de escolherem fornecedores em qualquer parte do mundo. Ou tornar mais caro esse processo.
Conforme Roriz, existe um déficit de 500 mil toneladas por ano de PVC no mercado doméstico, de forma que o acesso aos importados é crucial para os transformadores. A Braskem, sem considerar a aquisição, já é a maior produtora local, com capacidade para 710 mil toneladas por ano. Com a compra da Indupa, a brasileira entrará para o grupo dos quatro maiores produtores da resina nas Américas, com capacidade de 1,25 milhão de toneladas anuais de PVC e 890 mil toneladas/ano de soda.
A direção da Braskem acredita na aprovação pelo Cade, por conta da característica global desse mercado. “Já está estabelecido no Brasil que o mercado de resinas é um mercado global”, disse o presidente da Braskem, Carlos Fadigas, em teleconferência com jornalistas.