05/07/2019
Por José Ricardo Roriz Coelho
Presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast)
Após anos de retração econômica, a indústria de transformação e reciclagem do material plástico no Brasil encerrou 2018 com a expectativa de iniciar um ciclo de recuperação. Embora com um crescimento anual abaixo das expectativas, acredita-se que a atividade deva apresentar uma recuperação gradual de agora em diante, ainda que pequena.
No último ano, a indústria tinha a perspectiva de aumentar em 2,2% sua produção física, mas observou uma expansão de apenas 0,8%. Tal resultado é explicado, em parte, pela realização da Copa do Mundo e das eleições, momentos que normalmente desaceleram a atividade, e pela paralisação logística em maio de 2018. Na ocasião, houve uma quebra no ritmo já lento de recuperação, e a tendência de crescimento que havia até então se converteu em estagnação.
Em relação à geração de postos de trabalho, o cenário se manteve praticamente estável quando comparado a 2017, sendo o setor plástico o 4º maior empregador entre as indústrias de transformação e, entre os cinco maiores empregadores, o que paga os melhores salários. Historicamente deficitária na balança comercial, nossa indústria também registrou uma recuperação da demanda doméstica (+1,5%) em 2018.
No momento, nossa projeção para 2019 é que o setor cresça cerca de 0,7%. Recentemente, revisamos esse número para baixo (era 1,5%) diante dos resultados do setor nos primeiros meses do ano e das revisões de estimativas para o crescimento do PIB e produção industrial. Nossa avaliação é que o setor comece a alcançar o volume de produção física de 2014 somente em 2023.
Apesar disso, ainda existe uma boa expectativa do empresariado em relação ao presente ano e a 2020; e esperamos ver, nos próximos meses, resultados positivos caso sejam efetivadas as reformas estruturais que tanto o Brasil precisa para se recuperar.
A aprovação da Reforma da Previdência é fundamental para o controle da economia e, consequentemente, para sua retomada de forma sustentável. Uma maior abertura comercial também se mostra de grande importância para o setor industrial, em especial para a indústria de transformados plásticos, que possui uma alta alíquota de imposto de importação de matérias-primas, sendo este um dos principais entraves para a competitividade do segmento. Com essa abertura, facilita-se o acesso a fornecedores alternativos de insumos e aumenta-se a concorrência. Além disso, a manutenção dos juros em patamares baixos por um longo período e o não aumento da carga tributária são outros aspectos que prometem colaborar para a superação da crise.
Nesse cenário de recuperação, o setor deve enfrentar ainda dois grandes desafios: um relacionado à imagem do produto plástico e outro à produtividade da indústria.
Nossa cadeia produtiva viveu em 2018 mais um ciclo bastante desafiador, com o ataque ao plástico por uma parcela da sociedade. Com diversos questionamento acerca do material, acaba não havendo um debate profundo e ponderado sobre a economia circular no País, que envolve uma série de implicações: desde o descarte correto e consumo consciente, passando pela estrutura de coleta e destinação, até a reciclagem desses materiais e mudanças nos modelos de negócios. São várias as ações do setor para minimizar esses problemas, como a criação da Rede de Cooperação para o Plástico, em abril passado. Precisamos dar visibilidade a essas iniciativas.
Em relação à produtividade, o setor precisa se atualizar e implementar as novidades trazidas pela indústria 4.0. Enquanto a indústria brasileira passava por uma crise, o mundo se estruturava e implementava essas tecnologias. Agora o Brasil precisa se adequar para não ficar defasado. O aumento da competitividade do País está diretamente ligado ao acompanhamento dos avanços industriais.
Estamos prontos para enfrentar os desafios deste e dos próximos anos. Vivemos um momento oportuno e propício a mudanças. Por parte da ABIPLAST, seguiremos promovendo as melhorias no nosso setor. Com todas as atuais transformações tecnológicas e socioambientais, devemos buscar manter o plástico como a melhor solução para muitas das necessidades humanas, integrando-o às novas demandas e tendências de mercado.